sábado, 5 de maio de 2012

O tempo já se cumpriu


Comigo isso já aconteceu algumas vezes. Fui convidado para falar com um grupo, acertamos as datas, fechamos o tema e eu fui pensar na metodologia a ser adotada no dia. Algumas semanas depois sou avisado de que, por algum problema, na data já estabelecida não poderia ser realizado o tal encontro. Quando vamos verificar na agenda, a nova data não seria possível para mim.


Pois é. Isso aconteceu há poucas semanas novamente. O grupo para quem eu iria falar era uma turma bacana de crismandos que estão a poucos dias de receber o sacramento da confirmação. E haviam me pedido para falar do compromisso do jovem crismado.

Eu já fui catequista de crisma por alguns anos. É uma experiência formativa muito boa. E conheço um pouco deste universo, embora cada grupo seja diferente e cada geração nova apresente um novo desafio. Eu tinha claro para mim que a mensagem tinha que ser clara e direta, fácil de entender, mas desafiadora.

Lembrei de um texto que meu assessor havia me dado quando eu tinha 20 e poucos anos. Ele trabalhou a questão da centralidade da mensagem de Jesus e da boa notícia que Ele transmitiu. Até aí tudo bem, nenhuma novidade. Mas o fascínio todo do texto é que ele trabalhou o tema a partir de um único versículo bíblico. Está em Marcos, capítulo 1, versículo 15.

Então pensei a minha fala a partir também deste versículo. Ele tem quatro ideias chaves que eu pretendia trabalhar com a turma. Como não foi possível estar com eles e trabalhar com esta chave bíblica, vou sistematizar as ideias e mandá-las por aqui. Quem sabe possa ser útil para alguém, não é?

O versículo diz assim: “O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Notícia”. Esta fala é dita por Jesus, após os 40 dias no deserto, no início de sua “vida pública”, após a prisão de João Batista. São quatro as ideias que gostaria de trabalhar com os crismandos: 

O tempo já se cumpriu
O Reino de Deus está próximo
Convertam-se
Acreditem na Boa Notícia
Quando se diz que o tempo se cumpriu, tem-se a ideia de que algo está pronto ou terminado, ou que o tempo se esgotou. Afinal, de que tempo estamos falando? Seria o tempo do nosso relógio? Do calendário na nossa parede?

Este tempo do relógio é o tempo cronológico. Segundos, minutos e horas. Dias, meses e anos. O próximo instante engole este. Estamos sempre atrasados ou “perdendo tempo”, sempre envelhecendo, sempre defasados diante das novidades. Não. Não é deste tempo que o Evangelho trata. Ele fala de um tempo que se cumpre, de algo que era esperado e apareceu. 

Sabe aquela história de que “agora é tempo de feijão”, “está no tempo de colher milho”, “a laranja lima baixou de preço na feira porque agora é tempo dela”? Não é um tempo quantificado. É um tempo qualificado, propício, adequado, de preparação, colheita e frutificação dos dons.

O tempo se torna pleno com a mensagem de Jesus. Até o próprio tempo cronológico tenta absorver esta ideia, dividindo os anos antes e depois de Cristo. Mas não estamos falando de Chronos! Estamos falando de Kairós, o tempo adequado, em plenitude. O tempo do amadurecimento.

Quando tempo se cumpriu, Jesus apareceu em público e começou a organizar um movimento. Quando o tempo ficou maduro para Ele, foi que resolveu que era a hora de partir para a ação, de refletir mais profundamente com o povo, de apontar o que estava errado e anunciar qual era o desejo de Deus.
Quem se crisma, assume que está preparado para ser testemunha desta mesma proposta de Jesus. Quem se crisma, é porque percebeu que este é o momento de dar-se em público, por uma vida de justiça, fraternidade e amor ao próximo, de agir segundo as propostas do Reino de Deus. E é hora de colher frutos também. Há tempos que se espera pelo seu sim. Será agora o momento de dá-lo?

Mesmo o tempo kairológico também precisa ser aproveitado de maneira adequada, afinal não dura para sempre. Mesmo o fruto maduro, tem o seu momento certo. Se passar muito tempo para ser colhido, não cumpriu com a sua finalidade. Zé Vicente, um cantor pastoral bem conhecido pela PJ, disse muito bem numa de suas composições sobre o tempo maduro que devemos aproveitar:

“É esta a nossa hora e o tempo é pra nós. Que chegue em todo o canto a nossa voz. Miremos bem no espelho da memória. Faremos jovem e linda nossa história”


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