Uma inscrição na basílica de São Lourenço in Dâmaso, na Cidade Eterna, diz que, depois de certo tempo de vida comum com sua esposa, e com consentimento dela, separaram-se. Antônio recebeu as ordens sacras, e lhe foi designada a paróquia de São Lourenço. Seu filho Dâmaso, nascido na Espanha em 305, seguiu a carreira eclesiástica. Laurência, mãe de Dâmaso, ainda vivia quando ele se tornou papa em 366, assim como a filha Irene, que também se consagrara a Deus. Dâmaso era espanhol, mas não se descarta que ele possa ter nascido em Roma, no ano 305. Dâmaso aparece ainda criança em Roma, onde o pai era secretário de São Lourenço, Mártir, um dos sete diáconos da Igreja de Roma, martirizado durante a perseguição do Imperador Valeriano realizada em 258. A sua vida até ser eleito Papa, é muito resumida afirmando-se unicamente que era dotado de grande cultura e santidade.
Culto e instruído, ocupou o trono da Igreja de 366 a 384. Foi considerado um dos mais firmes e valentes sucessores de Pedro. Sem temer as ameaças e protecionismos imperiais, demitiu de uma só vez todos os bispos que mantinham vínculo com a heresia ariana, trazendo estabilidade à Igreja através da unidade, da obediência e respeito ao papa de Roma.
Sua eleição – em 1 de Outubro de 366 – foi tumultuada por causa da oposição. Alguns seguidores do anterior Papa Libério, próximos do Arianismo, consagraram o diácono Ursino, criando um Antipapa para tentar depor Dâmaso I. Houve até luta armada entre as facções, vitimando cento e trinta e sete pessoas. Mas, ao assumir, o então papa Dâmaso I trouxe de volta a tradição da doutrina à Igreja, havendo um florescimento de ritos, orações e pregações durante seu mandato. Devem-se a ele, por exemplo, os estudos para a revisão dos textos da Bíblia e a nova versão em latim feita pelo depois são Jerônimo, seu secretário.
Segundo sua legenda, um milagre o confirmou no posto: saindo São Dâmaso um dia da basílica do Vaticano, um cego conhecido começou a rogar-lhe em alta voz: “Santo Padre, curai-me”. O Pontífice, ante a fé e confiança do homem, fez-lhe um sinal da cruz nos olhos, dizendo: “Tua fé te salve”. O enfermo recuperou instantaneamente a visão. Diante do milagre, toda a cidade de Roma pôs-se de seu lado. Entretanto, o antipapa e seus principais sequazes lançaram mão de toda sorte de calúnias para denegrir São Dâmaso, inclusive a de adúltero. O Pontífice convocou um sínodo em Roma com a participação de 44 bispos, no qual se justificou tão satisfatoriamente que o Imperador confirmou sua eleição e exilou o antipapa e seus principais colaboradores.
São Jerônimo, o grande Doutor da Igreja, afirma: “Dâmaso foi um arauto da fé, oráculo da ciência sagrada”. Em seu governo, a Igreja conseguiu uma nova postura e respeito na sua participação na vida pública civil. Os bispos podiam escrever, catequizar, advertir e condenar. Esse papa sabia como ninguém fazer-se entender com os impérios e reinados e conseguia paz para que a Igreja se autogerisse. Foi uma figura digna do seu tempo, pois conviveu com grandes destaques do cristianismo, como os santos: Ambrósio, Agostinho e Jerônimo, só para citar alguns.
Além de administrador, era, também, um poeta inspirado pelas orações e cânticos antigos e um excelente arqueólogo. Foi também São Dâmaso que instituiu o canto frequente do Aleluia, que antes era próprio do tempo pascal. Estabeleceu ainda normas para se cantar os salmos, e assinalou as horas do dia e da noite em que se deveria cantar o ofício divino nas igrejas e mosteiros.
Graças a ele as catacumbas foram recuperadas, com o próprio papa percorrendo-as para identificar os túmulos dos mártires e dar-lhes as devidas honras. Nesse mesmo local exaltou os mártires em seus famosos “Títulos”, ou seja, epigramas talhados nas pedras pelo calígrafo Dionísio Filocalo, com os lindos poemas que escrevia especialmente para cada um.
São Dâmaso, o Papa mais notável do século IV, veio a falecer em 384. Na chamada Cripta dos Papas, por ele explorada nas Catacumbas de S. Calisto, no fim de uma longa inscrição, escreveu: “Aqui eu, Dâmaso, desejaria mandar sepultar os meus restos, mas tenho medo de perturbar as piedosas cinzas dos santos”..
Ao morrer, em 384, com quase oitenta anos, foi sepultado num solitário e humilde túmulo na via Andreatina, que ele, discreto, preparara para si. Santo papa Dâmaso I é venerado no dia 11 de dezembro.
A Igreja também celebra hoje a memória dos santos: Hugolino Magalotti e Pedro de Sena.
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