terça-feira, 17 de julho de 2012

Reflexão

“Qual Deus existe como tu?”

Miqueias 7,14-15. 18-20; Mateus 12,46-50

Miqueias, quem sabe, tendo feito uma profunda experiência do pecado e da graça se dirige a Deus com palavras escolhidas, sentidas e belas. “Qual o Deus que existe, como tu, que apagas a iniquidade e esqueces o pecado daqueles que são resto de tua propriedade? Ele não guarda rancor, o que ama é a misericórdia”. Depois do exílio o profeta tenta mostrar o rosto misericordioso do Senhor que vem em socorro da miséria humana e refaz o tecido do coração estragado pela infidelidade.
Uma das mais belas e transfiguradoras virtudes humanas é a da fidelidade. Pensamos aqui na fidelidade entre um homem e uma mulher, esposo e esposa. Eles se escolhem, fazem um pacto e nutrem dia a dia uma fidelidade criativa. É a mesma do começo e é totalmente outra depois, com o desdobrar dos acontecimentos e o desenrolar da história. Há essa fidelidade de um amigo para com um amigo. Um pode contar com o outro. Um serve o outro quando o outro precisa. Há a fidelidade do filho ao pai idoso: ele vem visita-lo, cuida de sua vida, de seus remédios, de seus sonhos. Pode acontecer que muitos desses exemplos conheçam o reverso: infidelidade conjugal, decepção com um amigo, displicência de um filho para com seu pai. Somente a intervenção do perdão, da compreensão para com a fraqueza do outro pode, se houver sensibilidade em quem ofendeu, restabelecer a paz.
Por causa de seus pecados e de sua loucura Israel foi coagido a pagar seus crimes com o duro tempo do exílio, exílio sem templo, sem cânticos, sem alegria da fé. Exílio, castigo da infidelidade. Miqueias dá a entender que o coração de Deus dá voltas no peito.
Em outras palavras, assim fala o profeta: “Povo meu, eu não guardo rancor para sempre. Eu sou a misericórdia. Haverei de esquecer todas as loucuras do coração de vocês. Eu os havia levado ao deserto, falado das coisas do coração, mas o coração de vocês andou longe das batidas de meu coração. Agora, confesso que tenho vontade de jogar os pecados e iniquidades de vocês no fundo do mar. Vocês foram infiéis, mas que quero ser fiel!”
Em nossa vida pessoal conhecemos o dilaceramento do pecado. Há o pecado pessoal e o pecado coletivo, social. Há essa comunidade da Igreja que é santa e pecadora, que é lerda para crer, que coloca gestos sem fogo, sem fervor… Por vezes, pessoal e comunitariamente, vivemos no exílio de uma vida sem viço. O templo existe, os hinos são cantados, mas falta o fogo. Acostumamo-nos a um tempo longo de rotina esterilizante. Não que estejamos francamente em estado de infidelidade… mas nos falta o fogo.
Frei Almir Ribeiro Guimarães

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