sexta-feira, 1 de junho de 2012

Santo do Dia.

Vida CristãSanto do dia › 01/06/2012

São Justino

São Justino, filósofo e mártir, é o mais importante dos padres apologetas do século II. A palavra «apologeta» faz referência a esses antigos escritores cristãos que se propunham defender a nossa religião das graves acusações dos pagãos e dos judeus, e difundir a doutrina cristã de uma maneira adaptada à cultura de seu tempo. Deste modo, entre os apologetas se dá uma dupla inquietude: a propriamente apologética, defender o cristianismo nascente («apologia» em grego significa precisamente «defesa»); e a de proposição «missionária», que busca expor os conteúdos da fé em uma linguagem e com categorias de pensamento compreensíveis aos contemporâneos.
Justino havia nascido ao redor do ano 100, na antiga Siquém, em Samaria, na Terra Santa; buscou a verdade durante muito tempo, peregrinando pelas diferentes escolas da tradição filosófica grega. Por último, como ele mesmo conta nos primeiros capítulos de seu «Diálogo com Trifon», misterioso personagem, um ancião com o qual se havia encontrado na praia do mar, primeiro entrou em crise, ao demonstrar-lhe a incapacidade do homem para satisfazer unicamente com suas forças a aspiração ao divino. Depois lhe indicou nos antigos profetas as pessoas às quais tinha de dirigir-se para encontrar o caminho de Deus e a «verdadeira filosofia». Ao despedir-se, o ancião lhe exortou à oração para que lhe fossem abertas as portas da luz.
A narração simboliza o episódio crucial da vida de Justino: ao final de um longo caminho filosófico de busca da verdade, chegou à fé cristã. Fundou uma escola em Roma, onde iniciava gratuitamente os alunos na nova religião, considerada como a verdadeira filosofia. Nela, de fato, havia encontrado a verdade e, portanto, a arte de viver de maneira reta. Por este motivo, foi denunciado e foi decapitado por volta do ano 165, sob o reinado de Marco Aurélio, o imperador filósofo a quem Justino havia dirigido sua «Apologia».
As duas «Apologias» e o «Diálogo com o judeu Trifon» são as únicas obras que nos restam dele. Nelas, Justino pretende ilustrar antes de tudo o projeto divino da criação e da salvação que se realiza em Jesus Cristo, o «Logos», ou seja, o Verbo eterno, a Razão eterna, a Razão criadora. Cada homem, como criatura racional, participa do «Logos», leva em si uma «semente» e pode vislumbrar a verdade. Desta maneira, o próprio «Logos», que se revelou como figura profética aos judeus na Lei antiga, também se manifestou parcialmente, como com «sementes de verdade», na filosofia grega. Pois bem, conclui Justino, dado que o cristianismo é a manifestação histórica e pessoal do «Logos» em sua totalidade, «todo o belo que foi expressado por qualquer pessoa, pertence a nós, os cristãos» (Segunda Apologia 13, 4). Deste modo, Justino, ainda que rejeitava da filosofia grega suas contradições, orienta com decisão para o «Logos» qualquer verdade filosófica, motivando, desde o ponto de vista racional, a singular «pretensão» de verdade e de universalidade da religião cristã.
Se o Antigo Testamento tende a Cristo como uma figura se orienta para a realidade que significa, a filosofia grega tende por sua vez a Cristo e ao Evangelho, como a parte tende a unir-se ao todo. E diz que estas duas realidades, o Antigo Testamento e a filosofia grega, são como dois caminhos que guiam a Cristo, ao «Logos». Por este motivo, a filosofia grega não pode opor-se à verdade evangélica, e os cristãos podem recorrer a ela com confiança, como se se tratasse de um próprio bem. Por este motivo, meu venerado predecessor, o Papa João Paulo II, definiu Justino como «um pioneiro do encontro positivo com o pensamento filosófico, ainda que sob o sinal de um cauto discernimento»: pois Justino, «conservando depois da conversão uma grande estima pela filosofia grega, afirmava com força e clareza que no cristianismo havia encontrado ‘a única filosofia segura e proveitosa’ («Diálogo com Trifon» 8, 1)» («Fides et ratio», 38).
Em seu conjunto, a figura e a obra de Justino marcam a decidida opção da Igreja antiga pela filosofia, pela razão, ao invés da religião dos pagãos. Com a religião pagã, de fato, os primeiros cristãos rejeitaram acirradamente todo compromisso. Eles a consideravam como uma idolatria, até o ponto de correr o risco de ser acusados de «impiedade» e de «ateísmo». Em particular, Justino, especialmente em sua «Primeira Apologia», fez uma crítica implacável da religião pagã e de seus mitos, por considerá-los como «desorientações» diabólicas no caminho da verdade.
A filosofia representou, contudo, a área privilegiada do encontro entre paganismo, judaísmo e cristianismo, precisamente no âmbito da crítica à religião pagã e a seus falsos mitos. «Nossa filosofia…»: com estas palavras explícitas, chegou a definir a nova religião outro apologeta contemporâneo a Justino, o bispo Meliton de Sardes («História Eclesiástica», 4, 26, 7).
De fato, a religião pagã não seguia os caminhos do «Logos», mas se empenhava em seguir os do mito, apesar de que este era reconhecido pela filosofia grega como carente de consistência na verdade. Por este motivo, o ocaso da religião pagã era inevitável: era a lógica conseqüência do afastamento da religião da verdade do ser, reduzida a um conjunto artificial de cerimônias, convenções e costumes.
Justino, e com ele outros apologetas, firmaram a tomada de posição clara da fé cristã pelo Deus dos filósofos contra os falsos deuses da religião pagã. Era a opção pela verdade do ser contra o mito do costume. Algumas décadas depois de Justino, Tertuliano definiu a mesma opção dos cristãos com uma sentença lapidária que sempre é válida: «Dominus noster Christus veritatem se, non consuetudinem, cognominavit — Cristo afirmou que era a verdade, não o costume» («De virgin. Vel». 1,1).
Nesse sentido, deve-se levar em conta que o termo «consuetudo», que utiliza Tertuliano para fazer referência à religião pagã, pode ser traduzido nos idiomas modernos com as expressões «moda cultural», «moda do momento».
Em uma época como a nossa, caracterizada pelo relativismo no debate sobre os valores e sobre a religião — assim como no diálogo inter-religioso –, esta é uma lição que não se deve esquecer. Com este objetivo, e assim concluo, volto a apresentar-vos as últimas palavras do misterioso ancião, que se encontrou com o filósofo Justino na margem do mar: «Reza, antes de tudo, para que te sejam abertas as portas da luz, pois ninguém pode ver nem compreender, se Deus e seu Cristo não lhe concedem a compreensão» («Diálogo com Trifon» 7, 3).
Catequese do Papa Bento XVI
A Igreja também celebra hoje os santos: Cândida e Herculano de Piegaro

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