Eu estava ontem voltando para casa depois de um dia de trabalho. O metrô nem estava tão cheio quanto costuma ser normalmente. Eu estava num banco, virado para a janela e a noite já tomava conta da paisagem. O cansaço e o sono eram fortes. Os olhos pesavam. Foi quando eu me dei conta de uma coisa interessante.
Olhei para as pessoas que saiam numa determinada estação e para outras que entravam. Poucas conversavam umas com as outras. Poucas também sorriam. O passo era apressado. Os rostos tristes, preocupados ou impenetráveis.
Num dos bancos próximos a mim estava uma mulher com um bebezinho de colo. Até onde minha vista alcançava, somente nós três estávamos sorrindo. Num mar de indiferença, temores e isolamento, o sorriso daquela criança era uma ilha de conforto. Quantos ali viram aquela criança? Quantos puderam aliviar o peso da carga diária com o olhar doce que ela transmitia?
Sim, você pode achar que este texto está muito piegas, sentimental demais. Então me deixe valer de outro exemplo, antes de entrarmos na questão pastoral de fato.
Era janeiro de 2007. Na estação de metrô de Washington, capital dos Estados Unidos, um homem de aparência jovem entra, encosta-se na parede perto de um cesto de lixo e, de uma caixa, saca um violino. O relógio marcava pouco mais de sete da manhã. Ele deixa a caixa aberta aos seus pés e começa a tocar. Por mais de 40 minutos ele ficou ali a tocar. Centenas de pessoas passaram por ele. Pouquíssimas pararam. Destas, poucas jogam algumas moedas na caixa aos pés do homem.
O nome desse homem é Joshua Bell. Ele tinha 39 anos na época. Ele não tocou ali por acaso. Tudo foi gravado e documentado pelo jornal Washington Post, conforme pode-se ler aqui ou na matéria feita pela Folha de São Paulo, aqui. Joshua é um dos maiores violistas do mundo. Três dias antes ele havia se apresentado em Boston, com casa cheia, ingressos esgotados e de valores bem altos.
Acredito que a maioria das pessoas que estão lendo este artigo também tem uma vida corrida. Talvez parecida com a das pessoas que não sorriram com o bebê no metrô de São Paulo ou que passaram direto pelo violinista em Washington. Sim, as preocupações diárias, os compromissos e as responsabilidades tomam conta dos nossos pensamentos em grande parte do tempo. Mas tem que ser assim sempre?
Não é assim também quando vamos fazer nosso trabalho pastoral? Muitas coisas se acumulam, muitas reuniões são marcadas e remarcadas. Atividades se aproximam e pendências têm de ser resolvidas num prazo cada vez menor. Fulano não dá resposta. Beltrana não atende ao telefone e nem responde o e-mail. E Sicrano tem que refazer o contato com X e Y porque o Z disse que daquele jeito não tem como fazer. E simultâneo a tudo isso, você ainda encontra uns filhos de Deus fazendo oposição sistemática ao seu trabalho. Não é fácil não.
Aí tem gente que acha que só tem dois caminhos: ou para de vez ou pisa fundo no acelerador até arrebentar a corda. Esse maniqueísmo malvado que só te dá duas alternativas vai acabar te fazendo mal. Claro que não há somente estas duas alternativas. Antes de tudo, temos que pensar como vamos nos organizar melhor para não cair neste círculo vicioso de atividade em cima de atividade e compromisso em cima de compromisso.
Quando forem se planejar, pensem naquilo que é prioridade e nos braços e pernas que vocês têm. Não se acumulem de coisas. E coloquem datas para as paradas obrigatórias. Tempo de descanso e de contemplação. Tempo de olhar as belezas da vida e de celebrar também. Tempo de dançar, cantar e jogar conversa fora. Tempo de deitar na rede e de festejar também. E abram mão das coisas menos importantes.
Dê uma parada. Repare na gente que sorri ao seu lado e sorria junto com eles. Repare nos sinais de vida e beleza que há no seu caminho diário e pare para contemplá-los. Repare na gente carrancuda no transporte público e deseje a eles um bom dia, boa tarde ou boa noite. Haverá quem não responda, mas haverá quem se transforme. E talvez seja você que precise desta transformação.
Fonte: http://pejotando.blogspot.com.br
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