Sabemos que a época da Quaresma é período propício de reflexão e conversão pessoal, em vista da Páscoa. E sabemos também que durante este tempo, a Igreja no Brasil realiza a Campanha da Fraternidade, a cada ano com uma temática específica.
O tema da juventude foi tratado em 1992 e, incrivelmente, eu me lembro disto, porque eu era jovem nesta época! Lembro que em 1989 recolhemos assinaturas no grupo em que eu era crismando, num abaixo assinado pedindo que a CF-91 fosse sobre juventude. Não conseguimos porque naquele ano de 1991 a campanha foi sobre o mundo do trabalho, em comemoração pelo centenário da encíclica “Rerum Novarum”, escrita em 1891 pelo Papa Leão XIII e que foi a primeira carta papal a tratar da realidade do operariado.
Mas o tal do abaixo assinado que passou pelo meu grupo rendeu frutos pelo Brasil. Foram 457 mil assinaturas, colhidas em 187 dioceses. E a campanha acabou mesmo acontecendo em 1992. Desde o ano anterior eu vi pipocar em diversos lugares cursos, assembleias, formações e até escola de samba. “Juventude, caminho aberto” era o lema desta campanha. Deu um ar de novidade, foi muito bem trabalhada na minha realidade e fez com que o tema da campanha ficasse colado com a ideia de um trabalho pastoral.
Temos uma nova oportunidade semelhante agora, para o ano de 2013, de atualizarmos esta mesma proposta e trabalharmos com uma geração nova e diferente daquela de 1992. E novamente ela acontece através de um abaixo assinado. Há a proposta de se conseguir um milhão de assinaturas. O acesso ao texto pode ser conseguido no endereço http://www.jovensconectados.org.br/arquivos/documentos/file/12-petio-para-a-campanha-da-fraternidade-de-2013. (Se você ainda não participou, corra! O envio do material é só até a primeira semana depois da Páscoa de 2011).
“Mas Rogério, a quaresma é um tempo tão pequeno. Como podemos fazer esta Campanha engrenar, faze-la acontecer de verdade, fazer com que a Igreja se entusiasme pela proposta e que seus frutos possam ser colhidos além dos muros eclesiais?”.
Não foi uma única pessoa que me perguntou isso. Senti esta preocupação com muitos colegas, alguns deles vindos de uma realidade onde a juventude não recebe muito apoio eclesial. É de fato um desafio. Corre-se o risco de ser uma campanha que não desperte o entusiasmo de alguns ou que caia num discurso moralista com outros. Há ainda quem não se atente àquilo que diz o texto base de estudos da campanha e comece a destilar sua raiva e ressentimento sobre a juventude, como se ela fosse totalmente culpada pela realidade em que se encontra.
Mas aí é que está! Onde alguns veem desafios, outros enxergam oportunidades. Onde uns percebem só problemas, outras sentem o vento da virada chegando. É possível, desejável e oportuno que a temática da CF extrapole o tempo quaresmal. E quem vai tocar isto é quem se entusiasma com a proposta. Quem tem outras prioridades, claro, vai levar estas outras adiante.
Há muita coisa que pode ser feita. Em nível local, pode ser feito um levantamento da realidade juvenil. Há jovens desempregados, fora da escola, em situação de risco, casados, seguindo alguma religião, com oportunidades de lazer? Podem ser feitos debates para sensibilizar a comunidade sobre o tema. Atividades culturais são também um forte agregador. E se juntar música, poesia, espiritualidade, dança, esporte, testemunho de vida e debates, teremos uma chance daquela localidade se aproximar da juventude e poder aprender e ensinar junto com eles.
Num nível mais amplo (cidade, região ou estado) também se pode fazer muita coisa. Creio que a principal delas é capacitar bem as boas lideranças a respeito da temática juvenil. E eu tenho claro para mim que uma das grandes forças neste sentido de capacitação e debate é a Pastoral da Juventude. Além disto, é uma outra tarefa importante dialogar com o poder público, levando as demandas e necessidades dos jovens para a busca de alternativas e soluções.
Claro que tudo isto pode ser feito independente da Campanha da Fraternidade ser ou não a respeito da juventude. Contudo, não há dúvidas de que ela ajuda a reunir forças. Talvez seja uma boa oportunidade (ou a melhor dos últimos anos) de fazer com que nós, enquanto Igreja, consigamos compreender melhor o universo juvenil e dialogarmos com ele num processo mútuo de evangelização e conversão ao projeto de Jesus.
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