quinta-feira, 19 de abril de 2012

Ei homem, por que choras?


Na Pastoral da Juventude falamos muito de um tal de homem novo e de uma mulher nova. Sempre foi muito tranquilo para mim falar deles. Eles sempre estiveram em meus manuais de pastoral e ouvi falar deles em várias palestras e conversas que participei. Até aqui neste blog eles já apareceram.

Não que eu seja masoquista, mas eu tomei um belo de um “tapa na cara” quando o teólogo e escritor Jung Mo Sung, numa conversa com militantes pastorais, disse que há muita teoria e idealização nesta história de novo homem e nova mulher. 

Eu gosto de ser questionado. Isso me faz pensar. E refletindo mais eu posso mudar de posição ou reafirmar com maior certeza aquilo em que eu acredito. Seria então este novo homem e esta nova mulher algo irrealizável? Um horizonte utópico inalcançável?

A PJ sempre disse que a nova sociedade seria formada sem opressores e oprimidos, em que:
A mulher e o homem estivessem acima de todo poder ou projeto.
A vida estivesse antes de qualquer outro valor ou interesse,
O(a) trabalhador(a) tivesse mais valor do que o capital.
A verdade predominasse sobre a mentira e a manipulação,
A ética fosse mais importante que a técnica,
A realidade e o testemunho falassem mais alto do que os projetos e discursos.
Isto é ponto de chegada, desejo a ser alcançado. Entre o olhar para onde se vai e chão em que se pisa há uma estrada que muitas vezes ainda não foi concluída, um caminho por onde alguns já iniciaram os passos. Mas não há graça se somente poucos traçarem este caminho. A grande festa no ponto de chegada é para muitos. E as transformações acontecem no caminho.

Sim. No caminho. Dizem os antigos que o melhor da festa é a preparação. A gente vive e revive, planeja e sonha com o momento final inúmeras vezes. E outras tantas vezes acaba modificando o roteiro original e por outras tantas acaba se convencendo de mudanças por conta do diálogo com outros companheiros de caminhada.

E assim é nessa história de novo homem e nova mulher. A gente olha para o horizonte e os enxerga lá. Mas ele e ela já estão aqui no momento presente, sendo lapidados e testados no fogo das relações diárias. E agradeço o cutucão que o Jung nos deu quando tratou do assunto.

Por causa do questionamento dele, pude olhar para minha história e perceber a importância da Pastoral da Juventude na minha formação. Embora eu não me recorde de ninguém ter dito isso diretamente para mim, a PJ me ajudou a entender que o dualismo (ou é isso ou é aquilo) não é a solução pastoral. 

O que eu quero dizer é que ninguém é puramente razão ou emoção, objetividade ou subjetividade, homem ou mulher. Até então, eu havia aprendido que o homem é feito para o mundo e a mulher para o lar, que aos machos não é dada a fraqueza de chorar em público ou de demonstrar sentimentos.

Graças a Deus apareceu a PJ na minha vida para modificar esta lógica de pensamento. Uma das primeiras lembranças fortes de meus primeiros anos na pastoral é a acolhida calorosa. Abraços eram ABRAÇOS mesmo. Fortes e completos. A gente partilhava vida num simples encontro de corpos.
Aprendi que na PJ nenhum rapaz é constrangido quando quer mostrar o que sente. Que as garotas são grandes lideranças e conduzem, organizam e motivam encontros, formações e reuniões. Elas são tão inteiras quanto eles. Eles podem ser tão subjetivos quanto elas.

Aprendi também que isto tudo é processo. Que a gente, por vezes, comete falhas. E que, por isso a gente precisa programar momentos de parada e reflexão para olhar nosso chão, nossas relações, nossa estrada e nosso horizonte. E é no aqui e agora que a nova mulher é gestada, testada e acompanhada; que o novo homem é gestado, testado e acompanhado. Graças a Deus.

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