Quem herdou a Cruz de Cristo tem Vida nEle. Escrevo este artigo em clima de ressurreição, na preparação para a festa da Páscoa. Minha reflexão está completamente tomada pelos gritos postos na via-sacra elaborada e animada pela juventude nesta sexta-feira santa. Caminhando pelas ruas de Viçosa, MG - terra mineira que cultiva práticas devocionais de outrora e que nem sempre se aproxima da ânsia juvenil por espiritualidade – um grupo de discípulas e discípulos de Jesus – na dinâmica de penetrar no mistério de sua Paixão e morte de cruz, se permitiu percorrer o caminho do calvário (da paixão) fazendo memória do calvário que coloca a juventude à prova de sua própria existência. Com a ousadia que caracteriza o jeito jovem de ser, entre as dores de Jesus e da humanidade, de forma profética, a juventude nos fez rezar e participar de suas dores, sobretudo “falta de educação, desestruturação familiar e violência”. Como momento motivado e assumido pela Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a via sacra da juventude foi toda preparada e animada pelos próprios jovens, garantindo assim a autenticidade jovem na linguagem, nos gestos e no conteúdo celebrado. Ao caminhar de uma estação para a outra, a sensação que nos vinha era de profunda sintonia com o calvário de Jesus e, por isto, um grande desejo fora invadindo meu coração: motivar e multiplicar esta experiência pelo Brasil a fora, a fim de cultivar no coração de nossas comunidades a oração jovem, o jeito popular de celebrar sua realidade, em suas durezas e singelezas. Vivendo esta experiência numa terra marcada pela presença jovem – visivelmente massiva por causa da Universidade Federal de Viçosa (UFV) – pude compreender o quanto ainda estamos distantes da Páscoa Juvenil! Mesmo sentindo naquelas duas horas a sensação de que Cristo libertava aquelas e aqueles seguidores que andavam ladeira acima e retratando a realidade da juventude em detalhes que às vezes nos passam despercebidos, batia forte no peito a dor pelas vidas feridas de jovens e, mais que isto, as vidas de jovens entregues por não experimentarem o sentido da vida. No profundo da Cruz de Cristo o sentido da vida era pleno, porém, na cruz dos jovens, a entrega da vida por causa do vazio do seu sentido fez-me recolher com as mulheres que choravam e guardavam o túmulo vazio na espera da Ressurreição. Quero crer que na aurora de Cristo a humanidade acorde para uma nova realidade para seus jovens. Não é justo que nossos jovens cresçam sem perspectiva de vida, assumindo o vazio da vida pós-moderna. É injusto que pessoas com potencialidade para sonhar, projetar sua vida e dinamizar as relações humanas com sua vitalidade sejam impedidas disto por causa da incredulidade dos adultos. Senhor, concede-me a graça de confiar na juventude – “semente oculta do verbo”. Mais tarde irei presidir a Vigília Pascal que, com toda certeza, será marcada por esta experiência. Diante do fogo novo, desejarei ardentemente que, pelas Chagas de Cristo as chagas da Juventude sejam curadas; na proclamação da Páscoa cantarei a saída de jovens do êxodo para viver uma nova realidade, que lhes permita sonhar e realizar seus sonhos; na Renovação dos Compromissos Batismais quero comprometer-me a acolher e confiar na profecia, realeza e sacerdócio da juventude para que nossos jovens tenham vida nele: Cristo Profeta-Sacerdote-Rei. Ao fazer memória do Mistério Pascal na última Ceia de Jesus com os seus, renderei ação de graças a Deus pela suprema entrega de Cristo e nela, a entrega de milhares de jovens que, sendo igreja ou não, assumem a causa da Vida e testemunham um outro mundo possível – muito melhor que este que nos apregoa tantas contradições. Em comunhão com Cristo – cordeiro da vida – quero comungar a entrega forçada da vida de jovens que morrem todos os dias sem o direito de “escolher, pois, a vida” como tanto nos ajudou a refletir a Campanha da Fraternidade deste ano. E como encerraram os jovens na via sacra, assim despojarei minha vida: “seja morte matada, seja morte morrida, se for vida doada não é morte, é vida!” Nas chagas de Cristo, quero contemplar a violência que afeta a juventude e causa tanta dor em que a ama. Na ressurreição de Cristo, quero transformá-la em sinais geradores de vida e esperança para a humanidade. Então, entoarei ao Senhor: “A morte já não mata, não mata mais a morte. Do chão regado em sangue, o amor brota mais forte”. Do lado aberto de Cristo jorrou água e sangue, fazendo nascer a igreja que, na Páscoa de Jesus, oferece a vida de seus filhos fazendo ecoar o grito da libertação: eis a luz, eis a luz, eis a luz de Cristo. E nós, filhos da luz, poeticamente cantamos: “Demos graças, demos graças, demos graças a Deus!”.
Pe. Gisley Azevedo Gomes, css
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