"A juventude quer viver”. Esse parece ser o principal grito dos jovens latino-americanos que ecoa por todo o continente. América Latina, uma das regiões mais violentas do mundo, também se destaca quanto à violência sofrida e praticada por jovens.
OInforme sobre Segurança Cidadã e Direitos Humanos, elaborado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), destaca que a média de homicídios na América Latina é de 25,6 por 100 mil habitantes.
Taxa elevada, ainda mais se comparada a outras regiões, como Europa, onde o índice é de 8,9 por 100 mil habitantes, ou Ásia Sul-Oriental, onde a taxa é de 5,8. Situação mais preocupante entre os jovens. Segundo o relatório, se relacionada a jovens entre 15 e 29 anos, a taxa de homicídio sobre para 68,9 por 100 mil habitantes.
No Brasil, por exemplo, o Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil, produzido pelo Instituto Sangari, revelou que, das 50.113 vítimas de homicídios no país em 2008, 18.321 tinham entre 15 e 24 anos de idade. Entre essa faixa etária, a taxa de homicídio em 2008 foi de 52,9 por 100 mil habitantes.
Para Julio Jacobo Waiselfisz, diretor de pesquisa do Instituto Sangari, o elevado índice de violência na América Latina deve-se principalmente a dois fatores: herança cultural e concentração de renda. Segundo ele, a forma de colonização, com escravidão e conflitos, contribuiu para uma cultura da violência na região, "um desprezo pela vida, com a solução de conflitos eliminando a parte conflitante”. Outro ponto destacado pelo pesquisador é a alta concentração de renda. Baseado em pesquisas e estudos, Waiselfisz aponta que a violência é maior em países onde a concentração de renda e de riqueza também é alta.
De acordo com o pesquisador, "a juventude é quem mais sente [essa violência] na América Latina”. Segundo ele, os jovens são os mais sensíveis às injustiças sociais e os que mais sentem dificuldade de inserção social. O Censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o Brasil possui cerca de 34 milhões de jovens. Desses, segundo Waiselfisz, aproximadamente 20% não estudam nem trabalham. "Então, o que se espera do jovem?”, questiona.
A percepção de que a juventude é a mais vulnerável à violência também é destacada por Felipe da Silva Freitas, coordenador da Campanha Nacional contra a Violência e o Extermínio de Jovens. Desemprego e dificuldade de acesso ao ensino superior são alguns exemplos de situações enfrentadas pelos jovens. Além desses, Felipe lembra que a juventude é uma fase de transição, de conflito. "O jovem luta pela autonomia, pela emancipação, é uma fase de transição da escola para o trabalho. É o momento que ele sai de casa e vai formar outra família”, complementa.
Para o coordenador da Campanha, os países latino-americanos apresentam algumas semelhanças quando o assunto é violência e extermínio de jovens. De acordo com ele, violência policial, desigualdade social e extermínio de jovens negros são algumas das queixas recorrentes na região.
Situação que pode ser melhorada com mais investimentos e políticas públicas para esse setor. Entretanto, deve-se lembrar que a própria juventude é um termo recente e que as políticas voltadas para esse segmento da sociedade ainda estão em processo de construção em muitos países.
O Brasil, por exemplo, teve a Secretaria Nacional de Juventude criada em 2005 e o Estatuto Nacional de Juventude ainda espera ser aprovado no Senado. Processo que também está caminhando em outros países da região. O Senado colombiano aprovou o Estatuto da Juventude neste mês de dezembro e a Venezuela criou, em julho passado, o Ministério do Poder Popular para a Juventude e os Estudantes.
A caminhada, no entanto, não para e prossegue com a demanda da juventude: construções de estruturas e marcos legais que tenham os jovens como sujeitos e protagonistas de direitos. Para Waiselfisz, o quadro de violência só mudará com mais educação. "A educação é o melhor equalizador de inclusão social”, reforça.
Basta de Violência!
Preocupados com a violência, jovens de vários países se mobilizam em campanhas e ações contra o extermínio da juventude. Na Guatemala, por exemplo, se organizou o movimento "Jovens contra a Violência”.
O grupo realiza no país projetos com o objetivo de prevenir a violência juvenil e garantir "mais e melhores” oportunidades para a juventude guatemalteca. De acordo com o movimento, o país está em terceiro lugar no ranking dos mais violentos da América Central, vitimando uma pessoa a cada 90 minutos.
Honduras também conta com um "Movimento de Jovens contra Violência”. A organização, segundo informações do perfil no facebook, é "um espaço para que os jovens das diferentes organizações juvenis e jovens independentes impulsionem uma proposta com ações encaminhadas a prevenir a violência; sensibilizar e envolver o maior número de jovens, especialmente aqueles em risco social; e fazer incidência pública para que a prevenção da violência seja prioridade na agenda pública”.
No Brasil, as quatro Pastorais da Juventude (PJ, PJ Estudantil, PJ do Meio Popular e PJ Rural) promovem, desde 2009, a "Campanha Nacional contra a Violência e o Extermínio de Jovens”. Felipe da Silva Freitas, coordenador da iniciativa, explica que a Campanha atua principalmente na formação política de base, discutindo com grupos locais sobre a temática da violência e assuntos relacionados à emancipação do jovem.
A atividade também envolve marchas e manifestações para denunciar violência sofrida pelos jovens brasileiros e para propor políticas públicas para esse setor da sociedade. Felipe destaca, por exemplo, a atuação da Campanha durante a 2ª Conferência Nacional de Juventude, realizada no início de dezembro, em Brasília; e na construção do Plano Nacional de Enfrentamento à Mortalidade da Juventude Negra.
Karol Assunção
Jornalista da Adital
Autor/Fonte: Adital
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