Nunca foi tão fácilA cultura das drogas dos anos 60 ruiu.
Mas essas substâncias continuam fazendo
parte do cotidiano dos adolescentes

Fabiana Corrêa
Ilustrações Fábrica de Quadrinhos

Os preços estão baixíssimos
Entre 1 e 2 reais é o custo de um cigarro de maconha
10 reais é o custo de 1 grama de cocaína |
Sabe qual é a probabilidade hoje de um adolescente ter algum tipo de contato com o mundo das drogas? Cem por cento. Quarenta e dois por cento deles já viram alguém sob o efeito de substâncias proibidas. Os que não viram, de três, uma. Ou têm um amigo viciado, ou já foram a uma festa onde havia consumo de drogas, ou sabem quem é o traficante do bairro. O acesso aos tóxicos nunca foi tão fácil. Os preços caíram. Com 10 reais – valor de uma entrada de cinema – é possível comprar 1 grama de cocaína. A maconha está ainda mais barata. Para adquirir um cigarro, basta ter 1 ou 2 reais. Soam românticos os tempos em que se imaginava que o primeiro contato de um adolescente com as drogas poderia ocorrer por intermédio de um lendário traficante disfarçado de pipoqueiro. Hoje, sabe-se que os entorpecentes são vendidos dentro do próprio colégio, por um aluno que trafica em troca de dinheiro para financiar seu vício. Pior: ele pode ser um colega de classe.

Drogas rondam a escola Esqueça o pipoqueiro. Pequenos traficantes vendem seu produto nas proximidades dos colégios. Alguns alunos traficam dentro das escolas em troca de consumo próprio | 
Impossível evitar o contato 42% dos jovens testemunharam alguém sob efeito de drogas
24% viram alguém vendendo drogas¹(1) Fonte: levantamento da MTV de 1999 |
A grande questão para os pais não é mais evitar que seu filho tenha contato com drogas. Isso é praticamente impossível. O desafio é que ele não se torne um dependente. Como fazer isso? Em primeiro lugar, faz-se necessário saber o que leva um adolescente a provar substâncias proibidas. O senso comum falaria em desajustes familiares, frustrações, problemas em casa e na escola. Segundo a maior parte dos especialistas, a resposta é bem mais prosaica e se resume a uma palavra: curiosidade. "Para muitos adolescentes, provar a droga faz parte do ritual da adolescência. É como 'ficar' pela primeira vez", acha o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A curiosidade leva a garotada a experimentar, mas apenas uma minoria desenvolve o vício. O jovem pode tornar-se um consumidor compulsivo, aí sim devido a frustrações e problemas familiares. "Se o adolescente estiver passando por um momento difícil, fica mais fácil chegar à dependência", opina o psicólogo Luciano Chati, que dá cursos em escolas sobre prevenção contra o uso de drogas.
Há outro aspecto interessante. De acordo com um levantamento feito pelo governo dos Estados Unidos, o caminho em direção às drogas pesadas começa pelo álcool e pelo tabaco. "Essa migração nem sempre é obrigatória, mas adolescentes que fumam cigarro e bebem estão predispostos a experimentar outras drogas", alerta o psiquiatra Sérgio Nicastri, mestre pela universidade americana Johns Hopkins e especialista vinculado ao Hospital das Clínicas de São Paulo. A pesquisa do governo americano diz que o uso, mesmo que esporádico, de cigarros comuns aumenta em 65 vezes a probabilidade de que o fumante venha a provar maconha. E quem já teve contato com a erva corre 104 vezes mais risco de experimentar uma carreira de pó. Isso ocorre, segundo Nicastri, porque depois de tomar alguns copos de cerveja o jovem se torna mais receptivo se alguém oferecer um baseado. Se o "barato" está ali disponível, o que custa experimentar? "É próprio do adolescente buscar o prazer sem se importar com as conseqüências", diz o psiquiatra.
Dessa forma, fica praticamente inevitável concluir o óbvio: o lar onde existe diálogo tende a ser a melhor defesa contra os conflitos e frustrações que transformam a curiosidade em vício. A atitude dos pais também é muito importante. Aqueles que bebem compulsivamente na frente dos filhos, por exemplo, dando a entender que é um hábito natural, são um péssimo exemplo. Como se viu, o álcool é, muitas vezes, a porta de entrada para o mundo das demais drogas.
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